Quando fazemos nossas compras, temos por hábito verificar se não há qualquer defeito de fabricação em todos os itens. Nenhuma irregularidade ou rachadura, uma pintura impecável… mas e se as coisas fossem mais valiosas com seus pequenos defeitos? E se escolhêssemos aquilo que compramos com base em como foram feitos e não pelo resultado final?
Essa valorização da imperfeição e do processo de criação vem da incrível filosofia do Wabi Sabi. É um conceito que vem do Japão do século XV e se aplica aos muitos aspectos da arte Japonesa, desde a cerâmica até o paisagismo e outros aspectos do design.
Kintsugi
Uma técnica secular de restauração de cerâmica, o Kintsugi é a epítome do Wabi Sabi e provavelmente a parte mais conhecida dele, por conta de algumas postagens virais em redes sociais.
Ao se deparar com um objeto quebrado, o artesão junta suas peças e preenche as rachaduras com pó de ouro, consertando-a, mas também fazendo-a mais forte. Não só a estética dessa peça é incrível, mas também a noção de que aquilo que foi danificado tem uma história e, portanto, é mais bonito.
Aceitação
A noção básica do Wabi Sabi se aplica ao dia-dia na forma de uma aceitação de si e daquilo que nos rodeia, um conceito que vem do Budismo. Ela engloba a apreciação daquilo que é imperfeito e incompleto, muitas vezes focando na noção de que nada é permanente no mundo.
Essa noção nos faz entender a beleza naquilo que é modesto e natural, mas também nos ensina sobre o que de fato é importante nas coisas e na vida: o caminho. O que valoriza algo não é o seu resultado final, mas o seu processo de criação, ou fabricação.
Ainda, o Wabi Sabi nos ensina algo que é muito importante para nossa sociedade, que é o reconhecimento da beleza da idade, da aceitação das rugas pela apreciação do caminho que levou a elas, e da compreensão do defeito como uma parte essencial do existir.
Imperfeição com dedicação
Imagine, por exemplo, que sua avó tenha uma receita milenar de lasanha, que percorreu toda sua família, e que ela serve nos dias que você a visita. Essa lasanha sempre será melhor do que aquela que você compra pronta no mercado, milimetricamente cortada por uma máquina, porque junto dela há o afeto, o cuidado e a dedicação que se imprime no prazer de cozinhar.
Aplique então essa noção para um vaso que você comprará para sua casa: certamente, o vaso industrializado é perfeito em todos os aspectos, estética impecável e dentro do padrão, mas não é incrível comprar um vaso feito por um artesão? Algo que nunca terá um igual, pois a cada movimento das mãos uma nova curva se cria no torno.
A beleza de um salgueiro que pende sobre um rio é inegável, bem como a sua assimetria. As prateleiras levemente desniveladas que você montou pela primeira vez são incríveis, são históricas! A essência das coisas é muito mais importante do que as coisas em si.
Estética despojada
O Wabi Sabi vai acolher o simples, o natural e o imperfeito como fatores estéticos fundamentais e, por consequência, vai adotar traços mais orgânicos e simplistas e muitas paletas monocromáticas. Também vamos verificar assimetrias e irregularidades, bem como uma grande valorização do rústico.
Assim, o acabamento impecável fica de lado para dar lugar a esses aspectos mais naturais, não só do ambiente que nos rodeia, mas também da criação humana. Valoriza-se o trabalho manual, o cuidado da produção e a dedicação na criação daquilo que consumimos.
Vamos encontrar texturas mais rugosas e ásperas, coisas com um aspecto mais envelhecido e muitas vezes veremos decorações com paredes descascadas e coisas resgatadas do desuso.
Essas coisas criam uma atmosfera mais despojada e livre da dureza da modernidade e do urbano, o que faz desse estilo uma ótima forma de se afastar do estresse do dia-a-dia em seu refúgio doméstico.
Enfim, com uma decoração Wabi Sabi vamos perceber sensações de tranquilidade, de silêncio e paz. E vale lembrar que mais do que ter, Wabi Sabi é ser. E encontrar essa quietude mais que necessária nos tempos atuais.